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GORREANA: O ÚLTIMO REDUTO DO CHÁ NA EUROPA



Quando pensamos em Chá imaginamos paragens longínquas onde pessoas de chapéus cónicos se atarefam nos socalcos debruçados sobre as plantas, ao ombro trazem sacas de tecido e por detrás de si há uma passagem luxuriante cheia de tonalidades verdes a perder de vista. Não imaginamos que o chá é a segunda bebida mais consumida no mundo logo a seguir à água. Pensamos que o Chá vem da China. Daí as porcelanas, a reverência do ato de beber chá, a elegância dos gestos. Os portugueses trouxeram-no consigo ao abrir as rotas comerciais com o oriente e depois espalharam-no pelo mundo. Mas se é certo que o Chá veio da China, alguns pés proliferaram na Ilha de São Miguel nos Açores. É lá que sobrevive a mais antiga fábrica de Chá da Europa, a Gorreana que persiste sem vacilar após 133 anos a produzir ineterruptamente.

A Ilha de São Miguel é a maior ilha do arquipélago dos Açores, faz parte do grupo ocidental. Quando chegámos fomos arrebatados pela paisagem luxuriante, pintada de verde, a sua origem vulcânica deixou-lhe como legado vulcões extintos que hoje são Lagoas magníficas como a Lagoa das Sete Cidades, a Lagoa do Fogo e ou a Lagoa das Furnas que nos tiraram a respiração. O terreno é acidentado e irregular e o tempo é ameno, com chuvas que ocorrem durante todo o ano e temperaturas que nunca geram geadas ou demasiadas horas de sol. O cenário ideal para o Chá crescer.



Alguns alegam que a planta que origina o Chá, a Camellia Sinensis foi introduzida nos Açores na segunda metade do século XVIII trazida pelas naus que retornavam do Oriente. Apesar de haver referências anteriores ao cultivo de Chá na região, nomeadamente na ilha da Terceira, foi em 1874 que a plantação Gorreana começou a produzir. A crise da laranja levou à aposta no Chá promovida pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que mandou vir mais sementes e técnicos chineses para ensinarem as técnicas de fabricação de Chá às gentes da ilha.

Mas foi só em 1883 que se comercializou pela primeira vez o Chá Gorreana, que produz sem interrupções até aos dias de hoje, tendo sobrevivido a cinco gerações, à Grande Depressão, duas Guerras Mundiais e o virar de dois séculos. O Chá foi uma indústria que cresceu na ilha, chegaram a existir 62 produtores e 16 fábricas, mas apenas a Gorreana sobreviveu ao passar do tempo.

São 75 hectares de solo argiloso e ácido que produz um Chá perfumado e de travo agradável, usando apenas métodos tradicionais, e em modo totalmente biológico. A localização e o clima permitem que não se usem quaisquer químicos porque as pragas comuns na planta do chá não sobrevivem no clima de São Miguel.

Para além de ser uma plantação livre de químicos, a fábrica do Chá Gorreana é também uma fábrica sustentável cuja energia para laborar provem de um gerador instalado num curso de água que existe na propriedade. O engenho foi montado em 1926 e ainda hoje assegura o funcionamento da operação.

Como se faz o Chá Gorreana?

Na Gorreana produz-se maioritariamente Chá preto e Chá Verde. Na plantação tudo é feito de forma tradicional sem a utilização de químicos e a apanha é manual.  A fábrica é uma espécie de museu onde máquinas da primeira metade do século XIX ainda estão em funcionamento.

Existem dois momentos a ter em conta na produção do Chá, o que se passa no campo e o que se passa na fábrica.

A planta do Chá leva seis anos a ter um porte que lhe permita produzir Chá, mas é uma planta com uma grande longevidade vivendo perto de 90 anos. No entanto, a não ser que se queira expandir ou mudar a plantação de sítio, uma vez plantada ela é quase perpétua pois a sua renovação é assegurada pelo rebentar de novos pés das sementes que caem ao solo. Não deixa por isso de ser uma plantação exigente e que necessita de atenção ao longo de todo o ano, com podas, abertura de carreiros e mondas constantes. A vantagem na ilha é que não existem as pragas típicas da planta do Chá e por isso não há necessidade de tratamentos químicos ou controle de doenças.

A apanha do Chá inicia-se em março e prolonga-se até outubro. Da planta apenas se apanha os gomos finais, a primeira, segunda e terceira folha, que são apanhadas à mão e transportadas para a fábrica onde permanecem em secadores durante dez horas antes de entrarem em produção.



Como se “fabrica” o Chá?

Na produção do Chá preto as folhas são diretamente encaminhadas para os enroladores. Estas máquinas têm como função enrolar a folha quebrando-a e fazendo sair a seiva interior. Depois de enrolado segue para uma primeira seleção e é depois deixado a oxidar durante três horas. Já oxidado o Chá segue para a máquina de secar, daí saí para a sala de seleção onde as folhas são separadas pelo tamanho e onde são retiras as folhas que não enrolaram nem partiram.

Da primeira folha produz-se o Orange Pikoe, um Chá muito aromático e leve. Da segunda folha colhida faz-se o Pekoe, um Chá menos aromático, mas com o sabor mais intenso e por fim, da terceira folha produz-se o Broken Leaf, um Chá mais leve em sabor e mais pobre em teína, o que o torna menos excitante.

Já na produção do Chá verde as folhas são aquecidas com vapor antes de entrarem no enrolador. Depois de saírem do enrolador passam diretamente para o secador sem passar pela sala de oxidação. Este processo entre o enrolador e secador é repetido três vezes antes do Chá seguir para a sala de seleção e posterior embalamento.


Chá, infusão e tisanas

Temos por hábito chamar de Chá a todas as infusões de plantas, mas a verdade é que há diferenças entre elas e por isso termos corretos a usar.

Chá é o resultado da infusão de folhas secas da planta Camellia Sinensis, uma pequena árvore da família das teáceas. Esta planta e os seus híbridos é a origem de todo o chá, não importa se verde, preto ou vermelho. A escolha das folhas e a forma como são processadas é que irá determinar as diferenças entre eles.

Uma infusão é uma bebida que se prepara com água muito quente, mas que não chega a ferver. A água é vertida sobre folhas secas, flores, ou outros elementos. Esta mistura é deixada a repousar um pouco antes de se beber. Quando bebemos um Chá de Tília, na verdade devíamos dizer que estamos a beber uma infusão.

Para fazer uma tisana a água ferve, por vezes durante vários minutos com as ervas dentro. Depois de fervido deixa-se repousar um pouco antes de beber. O método de fazer uma tisana é muitas vezes usado com ervas medicinais.

in drinksdiary.com

2 comentários:

  1. Já não existe o chá de Porto Formoso?!... Só assim é que o Gorreana poderá ser o último reduto.

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  2. I stopped at Gorreana Tea factory in Sao Miguel 5 years ago. Organically grown and processed the old fashion way. Really enjoyed it.

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