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À (re)descoberta de São Miguel


Paraíso de tranquilidade, berço de beleza natural e lar de iguarias gastronómicas ímpares , o coração do arquipélago está sempre pronto a ser descoberto ou revisitado. Fomos à procura do que de melhor há para ver, onde ficar e o que provar na maior ilha dos Açores

Quem vá pela primeira vez pode fazê-lo com expectativas prévias do que visitar e de como passar as suas férias. As histórias que se contam no continente existem, apesar de tudo, por um motivo, muitas delas bastante fidedignas (mesmo a das vacas, quase três por habitante). Mas São Miguel é uma terra mais propícia à descoberta do que a um roteiro rigidamente pré-estabelecido, mesmo com tantas paragens ditas obrigatórias. Trata-se, afinal, de um dos pontos de maior riqueza natural do País. Apesar de ostentar como cartão-postal as deslumbrantes lagoas vulcânicas, é um daqueles lugares de que se pode dizer que a beleza está à espreita em cada esquina.

À descoberta... 
À saída do aeroporto João Paulo II, duas qualidades são imediatamente óbvias. A proximidade de tudo - num piscar de olhos estamos em Ponta Delgada, noutro já o cenário muda radicalmente - só contribui para acentuar a convivência de paisagens que imaginaríamos separadas por mundos: cadeias montanhosas ao lado de praias, vilas piscatórias junto de terrenos agrícolas, a correria citadina de mãos dadas com a tranquilidade campestre.

Uma curva à esquerda no anexo de uma auto-estrada conduz-nos a uma reserva natural, e o que poderia ser uma caminhada de horas faz-se em poucos minutos - estamos no Salto do Cabrito, uma das dezenas de quedas-d'água de São Miguel, impregnado de beleza e onde mesmo os caminhos são adornados pela delicadeza das conteiras, planta asiática introduzida por jesuítas no século XVII e que, hoje, se encontra um pouco por toda a região.

De barco, a margem sul da ilha proporciona uma boa experiência da vida marítima micaelense. Um dos melhores pontos visitados, o Ilhéu de Vila Franca do Campo, a algumas centenas de metros da costa, oferece a possibilidade insólita de se fazer praia no meio do oceano: a estrutura côncava alberga, no interior, uma piscina natural muito frequentada por turistas, e um mergulho de máscara pelos seus limites exteriores revela uma paisagem de fauna e flora marítima sem paralelos.

Ao longo da costa meridional, os portos e as antigas casas de pescadores ajudam a contar a história de um povo umbilicalmente ligado ao Atlântico - o passeio é acompanhado de histórias de marinheiros e piratas, contadas por quem trata o mar por casa. E apesar da tentativa de encontrar golfinhos ou baleias em alto-mar não ter dado frutos (nos Açores, o whale watching é uma ciência precisa de contornos indecifráveis), ainda conseguimos observar alguma actividade vulcânica submarina antes do retorno para o hotel.



...E para a descontracção 
Por falar em hotéis, e como nem tudo pode ser aventura e descoberta, vale a pena salientar a excelente rede de estadias prontas a oferecer elegância e conforto a quem o exija (e as possa custear), num contraponto mais relaxado aos contornos frenéticos que uma viagem pode assumir. Na costa sul, a zona de Lagoa tem vindo a impor-se como alternativa menos movimentada ao núcleo hoteleiro de Ponta Delgada, a começar pelo WHITE, com quartos a partir de €200, que une simplicidade e estilo para uma estadia que dificilmente deixa a desejar.

Virado para o mar, junto à falésia e com restaurante, piscinas e tudo o que se lhes associa, aposta na indelével simpatia açoriana e conforto sem excessos. A decoração é elegantemente minimalista, a vista inspiradora - particularmente da piscina infinita, de onde a água doce parece diluir-se na salgada - e a gastronomia, cortesia do restaurante Cardume (para hóspedes), primorosa: entre calamares fritos, o rösti sueco ou os indispensáveis camarões a tempero, o bem-estar à mesa é palavra de ordem.

Para famílias numerosas e grandes grupos, uma das principais novidades em matéria de alojamento é o La Maison, interessante híbrido entre as experiências de hotel e do aluguer de casa. Vivenda com capacidade para oito pessoas (três quartos duplos e uma suíte) a partir de €500/noite, está equipada para uma estadia de descontracção plena: salas de estar e de jantar interiores e exteriores, parque infantil, piscina climatizada, firepit e um campo de croquet garantem que ir de férias não tem de ser sinónimo de não se sentir em casa. Mesmo oferecendo total independência aos hóspedes, o pessoal do La Maison está sempre à distância de um toque para serviços complementares. Desta forma, experimentamos ainda a terapia de massagem da tradição oriental aiurveda, que se apoia no conceito de chacras para um relaxamento integrado de corpo e mente. E apesar da cozinha de última geração assegurar que se possam preparar as próprias refeições, o complemento opcional de almoço e jantar, com a presença do chef, traz à mesa algumas das melhores iguarias da ilha: pratos como espetadas de lula e gambas, veja (o peixe local) com molho vilão e costeletas no churrasco representam bem os sabores da região.



Para provar 
O regionalismo é uma das bandeiras içadas por São Miguel: o selo açoriano está presente em tudo, desde o artesanato - na Fábrica de Cerâmica Vieira, de 1862, a mais antiga em actividade na região, é possível acompanhar todo o processo de manufactura - até ao mais abrangente leque de produtos de consumo. Destes, destaque-se a frescura do vinho branco Atlantis, companhia assídua de refeições, a cerveja Especial, que encontrará particular adesão junto dos apreciadores da cevada à portuguesa, ou os ostensivamente premiados licores de fruta. Entre as não alcoólicas, a Kima, espécie de gasosa com polpa de maracujá, é ponto de orgulho para muitos micaelenses, bem como os chás oriundos das plantações Gorreana, as únicas existentes em solo europeu. À sobremesa ou como lanche, as queijadas de Vila Franca do Campo são obrigatórias.

A vasta gama de peixes e marisco assume, naturalmente, o protagonismo da gastronomia açoriana. A paragem na Ribeira Quente é pretexto para almoço com algumas das melhores provas de toda a estadia: amêijoas em chapa quente com limão, chicharros fritos (primos insulares dos jaquinzinhos também se vai numa dentada), os escamados Afonsinho e Boca Negra com batata cozida e o atum são especialidades da Ponta do Garajau, casa que leva nota máxima em apresentação e sabor. Tudo vai bem com molho vilão, tornado presença constante sempre que o assunto é comida, e se houve refeição que não tivesse como entrada um ceviche - de atum, lulas, Boca Negra ou o que mais estivesse à mão - não nos recordamos de lá ter estado.

Já no Santa Bárbara Eco Resort, não há mãos a medir: à tarde, no Beach Club, os cocktails de gin dos Açores servem de acompanhamento à carvoada, nome dado à inventiva prática de se grelhar carne e peixe à mesa num espírito do it yourself. Já à noite, no restaurante, um deleite: as peças de sushi, sashimi, temaki e tantas outras variedades da tradição japonesa fazem-se com peixe local - veja, caranguejo real e lapas fazem parte da ementa, e o seu sabor natural só é incrementado pela perícia com que são preparados. Afinal, estamos nos Açores.

in Sabado

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