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Açoriano com barbearia de cheiros e sabores açorianos em Macau, com bordados regionais nas toalhas



Como temos vindo a destacar, existem muitos açorianos espalhados por muitos cantos do mundo e que continuam a ter os Açores no coração. No outro lado do mundo, mais precisamente em Macau, vive o micaelense Rui Carreiro, onde actualmente exerce a actividade na Franco Dragone – The House of Dancing Water, um dos mais impressionantes e apreciados espetáculos de dança na água, que atrai, diariamente, milhares de espectadores. Vai percorrendo vários pontos da Ásia em trabalho, mas ao sair da ilha, sente um aperto na alma, chegando a pensar que a distância seria mais fácil de gerir com o tempo, mas é exactamente ao contrário. Rui Carreiro é proprietário de uma barbearia com os cheiros e sabores dos Açores e diz que é a primeira vez que é entrevistado por um jornal da sua terra, já que jornais como O Sol e o Público e revistas como a Caras já publicaram trabalhos com este micaelense.

Correio dos Açores - Já trabalhaste em várias partes do mundo, agora estás em Macau a trabalhar. Foi fácil a decisão de sair da ilha?
Rui Carreiro - Sair da zona de conforto nunca é fácil em qualquer situação ou idade da nossa vida, pois é um misto de medos e desejos, por um passo que mesmo calculado não deixa de ser incerto ….A família, os amigos, o lar, doce lar, pesam sempre muito na balança, contudo o acomodar, o amanhar-se, o desculpar-se e justificar a si próprio e aos outros as situações que não nos trazem realização pessoal ou profissional torna-se doentio …

Fala-nos das expectativas que tinhas antes de partires e o que tens encontrado na realidade.
A mudança para Macau aconteceu num rompante. Fui a Macau de férias pela primeira vez, depois da colaboração na produção de mais uma edição da Moda Açores, visitar uns amigos e surgiram alguns contactos para 2 projectos. Voltei para Portugal depois das férias e comecei a trabalhar com o Zeca Medeiros na RTP, no filme Palácio de Aventura, projecto low cost em cachê, mas que deu muito mas muito prazer em fazer, tanto a nível profissional, bem como do trabalho de equipa.
No final do filme tentei fazer mais umas cadeiras na Universidade e voltei para a Ásia passar o Natal no Japão. No final do ano e a caminho na carreira parei de novo em Macau e cá fiquei, onde comecei a trabalhar num dos projectos de documentários das festividades de Macau, o qual foi muito gratificante e desafiador fazer, pois tínhamos a barreira da língua e da cultura como desafio de comunicação todos dias. Com uma equipa bastante jovem, com sangue na guelra ,lá conseguimos com êxito documentar as festividades de Macau, que são bastante ricas no seu conteúdo cultural das comunidades que aqui vivem e compõem Macau e um misto de culturas como filipina, tailandesa, indonésia, portuguesa entre outras.
Depois deste projecto, comecei a trabalhar no grupo MALO, num projecto que teria tudo para dar certo, com uma clínica e spa e ainda fiquei lá 2 anos, onde eu era responsável pela formação dos cabeleireiros, mas de todos, até agora, foi o projecto que menos gostei de trabalhar, pois os seus responsáveis nem uma mercearia teriam capacidade de gerir e a prova foi o que se viu o enceramento do spa e clínica, por falta de cumprimento da lei. Contudo, tiramos lições para o futuro mas ainda no MALO tive a oportunidade de participar no grande evento Bollywood Awards em 2012, um festival de cinema indiano.

Qual a herança mais significativa deixada por Portugal?
A maior de todas as heranças deixada por Portugal aqui em Macau é a língua. Mas, infelizmente, como se sabe, a língua portuguesa é apenas uma língua oficial do protocolo, porque na realidade esta não deixa de ser uma imposição de protocolo se assim podemos denominar sem bases para fluir no nosso dia-a-dia. Conta-se pelos dedos da mão, até mesmo no nosso próprio consulado português cá em Macau,quem a fale no atendimento ao público, bem como nos serviços da administração pública de Macau. O inglês e o chinês são as línguas mais utilizadas aqui em Macau. É pena que Portugal não tenha seguido o exemplo da região vizinha de Hong kong, onde o Reino Unido enraizou o inglês até hoje na sua ex-colónia. Eu, de chinês, nem sabia distinguir mandarim do cantonês, ou seja, como se diz na gíria, era chinês para mim e ficava grego para tentar comunicar …

Completa esta frase: “Não podem sair de Macau sem…”
Não podem sair de Macau sem ir a um Din Sum e ir ao Cais 22, uma tasca tipicamente chinesa. Cá também temos um famoso Cais 20 e muito mais antigo do que o de São Roque, que tenho saudades.

Fala-nos na tua actividade na Franco Dragone – The House of Dancing Water.
Estou no espectáculo há 8 anos, no departamento guarda-roupa nas perucas e maquilhagem. Para terem uma noção do espectáculo, temos 90 artistas, 160 elementos da produção, entre estes 36 mergulhadores e 28 elementos no guarda-roupa. São 38 nacionalidades, um palco que se move e transforma em piscina com 17 milhões de litros de água, o equivalente a cinco piscinas olímpicas, plataformas de salto de 25 metros de altura e a isto somam-se 375 figurinos, 230 pares de sapatos, 169 adereços de cabelo e 85 perucas por espectáculo, pois temos 2 espectáculos por dia com 50 minutes de intervalo entre eles. São precisamente nestes 50 minutes que temos que fazer o pre set para o segundo show, desde o guarda-roupa, perucas e toda a logística técnica. Trabalhamos por turnos de 9 horas diárias onde, na minha equipa, é composta por 5 elementos e temos um turno de manhã que prepara as perucas para o espetáculo e o segundo turno faz a colocação das perucas tanto no pre set, bem como nos artistas.

Como está a correr o teu salão de cabeleireiro, considerado um novo salão chique com foco em estilos inovadores, estabelecendo um nicho com ênfase no estilo vintage?
O barbeiro nasceu da necessidade de sair um pouco dos dias contra-relógio do teatro e passar mais tempo com os amigos, pois com os horários do teatro são como vivermos num outro fuso horário na mesma cidade, impossibilitando uma vida social ativa, com as pessoas com horários ditos normais das 9 as 18horas e para sair um pouco da rotina da imagem padrão e criar e fazer algo diferente, dado que nunca fui “rapazim” de estar quieto e de fazer uma coisa só.
A Barbearia abre um dia por semana, às quartas-feiras, onde trabalhamos por marcação e a carteira de clientes é bastante diversificada, tanto nas nacionalidades, como nas profissões, dando assim espaço para abranger um vasto leque de formas de estar dos clientes, onde atendemos homens, mulheres e crianças.
Tenho como lema não seguir uma tendência, mas sim a essência do cliente, pois estamos saturados da imagem padrão e de globalização nesta área, bem como noutras, pois perdeu-se um pouco a identidade das pessoas com imagem, bem como de ciclos.
Naquele espaço tento sempre vincar as minhas raízes dos Açores, em que o logo está na cerâmica pintada à mão por uma amiga, tal como se faz na ilha, em que a cerâmica é feita artesanalmente. As chávenas do café vieram de S. Miguel, da Cerâmica Vieira, na Lagoa e personalizadas com o logo; os bordados da minha rica mãe nas toalhas da barba feitos à mão;os licores na altura de natal, bem com o presépio com bonecos feitos na ilha, os quais trago sempre quando vou aí ou encomendo na altura de natal para venda,bem como roupa e sapatos de estilistas nacionais, pois o bichinho da moda ficou deste os 17 anos, altura em que comecei a trabalhar na área da moda.

Tens saudades dos Açores?
Saudades muitas, muitas mesmo. Ao sair da ilha, sente-se um aperto na alma, ao subir a escada do avião e mentalizar-nos que só poderás voltar daqui a uns largos meses. Pensei que seria mais fácil com o tempo, mas é exatamente ao contrário, pois acabamos por não poder estar presente e partilhar muita coisa em família e com amigos .

Como vês os Açores de fora depois da onda do turismo com a chegada das lowcosts?
Os Acores deram um grande passo num sector adormecido durante anos a fio, pois como é usual na política em Portugal faz-se muita mesquinhice entre cores partidárias e pouca política. Contudo, nota-se um grande fluxo no turismo mas com bases muito frágeis e desproporcionais entre preço e qualidade, afetando os açorianos que vivem nos Acores, bem como os visitantes que procuram serviços de excelência.
Puseram a carroça à frente dos bois, dado que não se criou uma base, um plano antecipadamente, só agora foi criada entidade de coordenadora da sustentabilidade do destino turístico Açores em Maio deste ano, o que demonstra esta falta de planeamento antecipado.
Os reflexos são muitos: um aumento no trabalho precário na hotelaria; os preços dos imóveis e rendas dos mesmos sem controlo de entidades competentes, dificultando os locais de encontrarem habitação para renda ou mesmo para compra; a falta de animação turística; a proteção ambiental nas visitas às lagoas. Aliada a esta falta de planeamento existe um sistema que atrapalha tudo, falo por experiência pessoal, visto que é um martírio quando queremos tratar de alguma coisa, já que o bendito do sistema que nunca funciona ou está lento, nos serviços públicos, segurança social, nas fianças, nos bancos, demostrando alguma incapacidade de satisfazer as necessidades dos utentes, não deixando de ser espelho operacional como se trabalha nos Açores. Contudo, é de salientar um crescimento na economia na Região, principalmente em São Miguel, bem como nas apostas empreendedoras na restauração e alojamento.

Fonte: Correio dos Açores

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