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"Almanaque Camponez" nos Açores faz 100 anos sem mudar imagem original


O "Almanaque Camponez", a comemorar 100 anos de publicação nos Açores, mantém a forma e imagem do primeiro número, e se há mudanças ou erros, os leitores reclamam, disse hoje à agência Lusa o autor.

“As pessoas notam logo. Há pessoas que leem isto ‘de fio a pavio’. É uma coisa impressionante. E até às vezes é que me dizem ‘tens ali uma coisa que não está correta’. Fico logo preocupado”, afirmou Luís Filipe Andrade, atual autor do almanaque, mais antigo do que o congénere “Borda d’Água”. Este ano, excecionalmente, há uma capa colorida a assinalar os 100 anos do “Almanaque Camponez”, mas no interior repete-se a capa habitual, o mesmo estilo de letra, o papel amarelado e os símbolos, tal como na primeira edição, lançada pelo bisavô de Luís Filipe Andrade em 1917. “Isto não é uma revista, é um almanaque tal e qual como o meu bisavô fazia. Enquanto as pessoas quiserem, vai ser assim”, garantiu. Proprietário de uma das mais antigas tipografias e livrarias dos Açores, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, Manuel Joaquim de Andrade editou livros de escritores famosos na época, como Vitorino Nemésio, e criou o “Almanaque Camponez”, que se mantém há quatro gerações na família. Então, o peso da agricultura nos Açores era incomparavelmente maior, mas o bisneto do fundador garante que a procura se mantém nos dias que correm, acrescentando que esgota habitualmente a tiragem de 9.000 exemplares. “As pessoas começam outra vez a cultivar algumas coisas. Agricultura industrial não há, mas as pessoas compram, porque quase toda a gente tem um quintal. Pequeno ou grande, quase toda a gente tem um bocadinho de terra”, frisou. Mas nem só de conselhos agrícolas se faz o “Almanaque Camponez”. Além das luas e dos tempos certos para semear os legumes ou podar as árvores, há um prognóstico da meteorologia para o ano inteiro, calculado com base em dados astronómicos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “É difícil, não é uma ciência exata. Dá uma aproximação do que poderá eventualmente fazer durante aquela semana. Há sempre uma diferença de um ou dois dias”, disse o autor, explicando que faz os cálculos seguindo gráficos de livros que herdou do bisavô. A dispersão geográfica e a instabilidade meteorológica nos Açores dificultam as previsões do estado do tempo, mas para o autor o mais difícil é a listagem das datas das festas religiosas, porque algumas são móveis e basta um pequeno descuido para errar. “As pessoas abordam-me na rua e se eu falho alguma coisa ou tenho um erro, é complicadíssimo”, reiterou, revelando que o almanaque, com uma edição anual, é feito em quatro meses. 

Luís Filipe Andrade admitiu que não tinha intenção de dar continuidade ao “Almanaque Camponez”. Quando o pai faleceu, há 16 anos, não conhecia os cálculos, nem outros pormenores da publicação, mas a insistência do público foi tanta que acabou por se entregar aos livros. Sem subsídios públicos, o “Almanaque Camponez” mantém há vários anos o mesmo preço (2,20 euros) e assim continuará até ser sustentável. “O almanaque não dá para enriquecer, mas não pode dar prejuízo”, referiu o autor. A publicação chega a todas as ilhas dos Açores e à Madeira, mas muitas pessoas compram quatro e cinco exemplares para enviarem a familiares emigrados nos Estados Unidos da América, no Canadá ou no Brasil. O 100.º aniversário vai ser assinalado com uma exposição no Museu de Angra do Heroísmo, que incluirá um exemplar do primeiro número, e uma edição limitada de 50 exemplares dentro de uma caixa com gravura a zinco.

Fonte: AO

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