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Gravura de 1808 descreve destruição pelo vulcão da Urzelina


Um documento a aguarela, guardado no Arquivo Histórico Ultramarino, conta numa imagem o que aconteceu na ilha de São Jorge, em 1808, quando entrou em erupção o vulcão da Urzelina.

A zona é sensivelmente a mesma que hoje vive uma crise sismo-vulcânica.
Esta gravura de 1808 mostra uma "Prospectiva da Ilha de S. Jorge, vista do Fayal". Ler as anotações é ter as coordenadas do passado.
São apontados a vila das Velas, Santo Amaro e a povoação do lugar dos Toledos, pertencente a Santo Amaro, bem como a freguesia de Santo António.
Em Santo António, uma "primeira erupção" tinha entulhado "de pedras e cinzas" a freguesia "até ao mar e feito inacessível a passagem por aquela parte".
O "lugar da Urzelina" surgia todo coberto pelo que no mapa é descrito como "lava inflamada".
Pintadas no documento estão "erupções que ultimamente houveram, que chegaram ao mar e têm formado uma ponte".
Era registada uma "segunda erupção", que lançava só fumo. Uma terceira entulhara o lugar dos Toledos: "A lava que veio por uma ribeira abaixo chegou ao pé da freguesia de Santo Amaro".
Relatos da história
Uma dissertação de 2015, realizada no âmbito do mestrado em Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, por Rui Marques, olha o acontecimento histórico e outras calamidades naturais que afetaram São Jorge.
"As narrativas dos cronistas e a documentação dos arquivos históricos referem-se à inclemência do meio, que atemorizou as populações ao longo dos séculos, nomeadamente de devidas erupções, terramotos, enchentes e inundações. Os acontecimentos mais fatídicos para as vítimas e os danos colaterais causados foram, sem dúvida alguma, as erupções de 1580 e 1808 e o terramoto de 1757", é apontado.
A dissertação, intitulada "Sociedade e economia no concelho das Velas nos séculos XVIII-XIX", assinala que "a última erupção na ilha de São Jorge aconteceu no primeiro dia de maio de 1808, mas não teve os efeitos aterradores dos acontecimentos anteriores".
A obra "Ilha de S. Jorge: Apontamentos para a sua História", de José Cândido da Silveira Avelar, contém várias descrições daquele tempo. Está incluída a do padre João Ignácio da Silveira, cura de Santo Amaro na altura da erupção vulcânica.
"Da bocca daquele vulcão saíam estrondos tão fortes e medonhos sem intervalo que convidavam aos habitantes d'esta ilha para Juízo. Correu todo o povo a deprecar a Deos, porém logo o povo da freguezia da Urzelina se assustou deixando o seu vigário o rev. José António de Barcellos só no adro da sua igreja, e logo no mesmo dia choveu tanta areia de tarde que ficaram as casas chamadas do mato cobertas de areia e os campos d'ahi para cima em parte ficaram com altura de 7 palmos, e as vinhas dos Castelletes até à ermida de Santa Rita, da freguezia das Manadas, ficaram cravadas e as casas quasi abatidas com o pezo, sahindo immediatamente línguas de fogo do centro que chegavam aos ceos, deitando pedras ignitas de 8 palmos, em distância dum quarto de legoa, outras de 16 palmos em quadro e outras menores, subindo à mesma altura cahiam como densos chuveiros", escreveu.
"Chegou a triste noite, então é que desfaleceram os habitantes desta ilha vendo todo o fogo e pedras ignitas, que sahiam como coriscos e quase que pareciam cair sobre os povos, e as vidraças das egrejas pareciam quebrarem-se aos eccos d'aquelle pregoeiro que nos ameaçava de morte", relatou.
A atividade vulcânica mais expressiva terá cessado no início de junho de 1808, mas foram observadas manifestações por mais tempo.
Como testemunho da erupção vulcânica, permanece a Ponta da Urzelina
Fonte:  Diário Insular, 23 de Março / 2022

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