Nuno Sá mergulhou “fundo” no maravilhoso mar português
Nuno Sá e “Mar, a Última Fronteira” — mergulho profundo no mar português
“Eu queria era ser o Cousteau.” O fotógrafo e realizador subaquático Nuno Sá cresceu a ouvir o homem de barrete vermelho que dizia que “o mar é o esgoto universal”. Hoje, respira e fala debaixo de água — literalmente.
Uma viagem até aos 1000 metros de profundidade
— Queres vir comigo até aos 1000 metros?
— Sim, claro!
— Óptimo. Então sê bem-vindo à nossa pequena nave-espacial.
No terceiro episódio da série “Mar, a Última Fronteira”, Nuno Sá embarca no LULA1000, o submersível da Fundação Rebikoff-Niggler, construído peça a peça por Joachim e Kirsten Jakobsen para resistir à pressão a mil metros de profundidade — o equivalente a “dois Airbus 380 totalmente equipados em cima de cada centímetro quadrado”.
“O mar é mesmo a última fronteira do conhecimento”, diz Nuno. “Já estiveram mais pessoas no espaço do que a esta profundidade.”
O fundo do catamarã abre-se ao largo da Ilha do Faial, junto ao Banco Condor. Silêncio. Negrume. Vida quase alienígena — um cenário digno do filme “O Abismo”, de James Cameron.
Contacto tardio com o mar, mas paixão imediata
Nuno começou a mergulhar aos 21 anos. “Mesmo assim já foi há 21 anos”, brinca. O primeiro curso de mergulho foi durante o curso de Direito na Universidade Católica, mas o fascínio pelas águas de Sesimbra foi mais forte do que o apelo dos tribunais. “Na minha cabeça já sabia que ia viver em contacto com o mar. Nunca ia meter os pés no tribunal.”
A namorada de então (hoje mulher e mãe dos seus filhos) acompanhou-o numa viagem sabática pelo mundo: Austrália, Nova Zelândia, Tailândia, Japão... com uma paragem prolongada nos Açores. “Se calhar vamos ficar por aqui”, pensaram. E ficaram.
Inscreveu-se na Universidade dos Açores em Biologia Marinha e começou a trabalhar numa empresa de observação de cetáceos — “acho que nunca tinha visto uma baleia na vida” — e num centro de mergulho.
De advogados a baleias: o clique fotográfico
Começou a fotografar baleias para mostrar aos amigos advogados. Em 2008, concorreu pela primeira vez ao concurso Shell Wildlife Photographer of the Year com uma imagem de uma baleia-comum nos Açores — e ganhou.
A partir daí, surgiram colaborações com revistas internacionais e convites de canais como BBC, National Geographic e Discovery. Tornou-se “o tipo que filma baleias e tubarões”.
Filmou na costa pacífica da Colômbia, na Patagónia argentina... só falta a Antártida na checklist.
“Mar, a Última Fronteira”: o maior documentário marinho português
Com a série Mar, a Última Fronteira, o objetivo era claro: “surpreender os portugueses” e mostrar que ainda temos uma vida marinha rica e valiosa. Foram 1648 milhas navegadas, 11 ilhas, 4 montes submarinos e a segunda maior montanha submersa da Europa. Um projeto da RTP em parceria com o Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul.
“Queríamos que os portugueses se interessassem pela vida marinha e se preocupassem em conservá-la. As pessoas protegem o que amam.”
Um formato imersivo e educativo
O formato da série é mais Cousteau do que David Attenborough. Graças à full face mask, é possível comunicar debaixo de água e reagir em tempo real: “Se somos atacados por um peixe-porco, o público vive isso connosco.”
Nuno leva esta missão também às escolas, contando histórias que fazem os alunos abrir os olhos: “o coração de um tubarão-baleia é do tamanho de um Volkswagen Carocha”.
Conservação: mostrar para proteger
“Mostrar o impacto do ser humano nos nossos oceanos” é essencial. No Banco Gorringe, a 120 milhas da costa, é possível ver como era o mar antes da pesca industrial — um mar prístino, saudável. Junto à costa? Sobre-explorado, sobrepoluído, sobrepescado.
“Estamos a tratar muito mal os nossos recursos naturais”, lamenta. E a série percorreu todas as reservas marinhas do país para mostrar isso.
🎥 Vídeo: Mar, a Última Fronteira
Veja o vídeo oficial da série Mar, a Última Fronteira, realizada por Nuno Sá, com imagens subaquáticas impressionantes da costa portuguesa, Açores e Madeira.
Fonte: publico.pt
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